quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Golfinhos-Arbóreos - O Começo

Alguma notícia não se mostrou esclarecedora o suficiente para você? Te deixou contemplativo? Se perguntando se aquilo era realmente o que de fato acontecera?

Eu vou deixar claro aqui: Não, não era. Eram apenas mentiras.

Sobre as verdades?

Há muito não estivemos preparados para elas. Os seres humanos não se mostravam receptivos o suficiente para entender e aceitar a realidade dos fatos e, por fim, compreender o futuro que os aguardava.

Por anos fiquei calado. Por anos escondi tudo o que sabia afim de proteger aqueles ao meu redor. Por anos me peguei na beira do abismo, o encarando, enquanto o mesmo ria em escárnio para mim. Em seus dentes pontiagudos eu via letras, que juntas se transformavam em mensagens pessimistas. “Desista”, “Tudo em vão”, “Já era”, “É Inútil”...

Contudo nunca me deixei abater. Sempre me segurei na esperança de que um dia tudo iria mudar, e eu então poderia olhar para trás e ter a certeza de que havia feito minha parte.

Vou revelar aos poucos tudo o que sei e tudo o que ainda vou descobrir. Tomando sempre cuidado para que eles não me encontrem.


Eu me chamo (/@¨d!0, e foi assim que tudo começou.






                                                                         O Começo




- Sabe. O vovô já viveu tantas coisas.
O homem aparentava ter a idade que realmente tinha. As rugas no rosto, as manchas na pele, os poucos cabelos brancos, a mão trêmula e os óculos bem gastos. Em seu colo, um garoto com cerca de seis anos o encarava com afeto.
- Conta uma história do seu passado, vovô. - O garoto pediu.
- Uma assustadora? - O senhor perguntou com um sorriso no rosto. Conhecia bem o seu neto e seu amor por suas histórias.
- Uma assustadora! - O garoto clamou entusiasmadamente, se remexendo para encontrar uma posição mais confortável.
Tinham pouco tempo juntos, o avô e seu neto. A família só o visitava nas férias da escola do menino. Vinham da cidade grande. De onde o senhor queria distância faziam anos.
O garoto ansiava por uma boa história. Sempre foi um bom ouvinte, e seu avô um bom contador de histórias. O brilho no olhar da criança o instigava a revelar os segredos que ele há muito já havia decidido não levar consigo para o túmulo. Histórias difíceis de se acreditar. Teorias conspiratórias que condenavam a vida daqueles capazes de prová-las.
- Vou te contar uma história que eu mesmo ouvi quando tinha sua idade. Uma história que, durante os anos que vivi, deixou de ser apenas uma fantasia. Uma história que me ensinou não duvidar do ridículo, pois quando o fazemos, muito pode ser colocado em risco.
Se o garoto acreditasse nessa história e decidisse pesquisá-la mais a fundo futuramente, sua vida estaria em risco. Não era justo. A criança ansiava por uma história aterrorizante, e não pelo fim prematuro de sua vida. Ele não podia fazer isso com o garoto. Mas, por outro lado, se alguém fosse capaz de expô-los com toda essa informação, talvez a raça humana tivesse uma chance quando a guerra entre essas duas espécies finalmente se desencadeasse.
O velho senhor pagaria por esse pecado em qualquer pós vida que fosse. Resolveu apostar o futuro da humanidade nos minutos que se seguiriam.
- Muito tempo atrás. Quando a raça humana sequer entendia os conceitos de humanidade. Um espécime de uma raça alienígena veio para o nosso planeta. Ele fugira de seus inimigos. No nosso planeta ele era um refugiado. O único sobrevivente de uma guerra de proporções colossais. - O senhor começou contando, assistindo nascer uma centelha nos olhos de seu neto enquanto o mesmo se maravilhava com a vida que seu avô trazia ás histórias.
- Contra quem eles guerreavam, vovô? - A criança inquiriu, curiosa.
- Eles guerreavam com seres tão incríveis e vis quanto eles. Seres que os pegaram desprevenidos em suas casas e os destruíram quase por completo.
O senhor deu alguns segundos ao garoto enquanto limpava sua garganta em um pigarro.
- Essa criatura, apesar de derrotada em batalha, possuía poderes com os quais humanos não podiam competir. Era uma criatura forte, super inteligente, super ágil e hábil em qualquer ambiente que fosse. E era uma criatura carnívora, como qualquer ser superior. Aqui na Terra, sua dieta se resumia a humanos.
- Ele comia gente, vovô?
- Sim. Ele as comia, mas não por maldade. Era parte da cadeia alimentar. Era apenas natural para ele. Assim como deveria ser para nós. Mas para um ser pensante como nós humanos, é aterrorizante estar desse lado da cadeia alimentar. Vilas esvaziavam da noite para o dia. As pessoas logo criaram histórias mirabolantes sobre tal monstro, assassino e impiedoso. Mal sabiam eles que quase tudo o que inventaram se mostrava a plena verdade.
“A criatura se fortaleceu com o passar das gerações. Centenas de anos pareciam ser para ela o equivalente a um mês. Em certo ponto na história, as pessoas tinham plena sabedoria da existência de tal ser. Sabiam onde ele residia, e de seu domínio tomavam distância. Poucos eram aqueles que se arriscavam em seu território. As florestas.
Em certa ocasião, humanos encontraram vestígios no que aparentavam ser abrigos antigos da criatura. Haviam escritas pelas paredes de pedra. Desenhos e palavras em letras estranhas. Um alfabeto alienígena ainda indecifrável por nós. Nessas letras estranhas um homem pensou conseguir ler algo, provavelmente a combinação de imagens que se assemelhavam as do nosso alfabeto, mas não era importante. A palavra que ele leu - ou que sem querer inventou - acabou por se tornar o nome pelo qual a criatura passou a ser conhecida. "Delphim".
Os terrores de Delphim cessaram com o passar dos tempos. Quando a humanidade pensou estar finalmente livre dos massacres, quando as gerações mais recentes começaram a acreditar que a lenda de Delphim era nada mais que uma lenda, eis que três criaturas surgiram. Três seres semelhantes ao Delphim em forma. Acreditaram que fossem seus filhos. O tempo de paz nada mais fora que a calmaria antes da tempestade. E que tempestade estava para começar...
A idade finalmente chegou para Delphim, começara a sentir-se mais fraco. E isso o forçou a se multiplicar em números. Na verdade, esse fora seu plano desde o início. Perpetuar sua espécie quando conveniente. Então ele se reproduziu. Como ele o fez sozinho ainda é um mistério para nós. Devido ao fato de suas crias serem tão distintas, a clonagem foi uma hipótese descartada logo de cara, assim como a reprodução assexuada.”
- O que é reprodução assexuada, vovô? – O garoto perguntou, curioso.
                O senhor percebeu ter se empolgado demais com os termos. Ele esquecia de pra quem contava a história. Parte disso se devia ao fato de que, mesmo sem entender certas coisas, o garoto precisava ouvir tudo o que ele sabia a respeito. Ele precisava saber. Mesmo que só fosse entender por completo em um futuro distante.
- Nada com o qual você tenha que se preocupar agora. O importante são suas crias, "os três demônios", como passaram a ser conhecidos. Winter, o sábio. Era o menos inteligente dos irmãos no início, mas tinha uma habilidade única. Ele absorvia toda inteligência das criaturas que ingeria. Quando se deu conta de seu poder, foi dado o início à maior chacina que a história já teve o desprazer de presenciar. Logo se tornou um ser de sabedoria absoluta, clamando sempre por mais; o segundo filho era Flipper, o brincalhão. Ele era refém de seu próprio deturpado senso de humor. Alimentação era para ele uma brincadeira. Um espetáculo. Um animal capaz de saltar montanhas em acrobacias divertidas, apenas para pousar e esmagar uma vítima desavisada, afim de saciar sua sede pela comédia trágica; o terceiro e mais novo dos três, Willy, o forte. Diferente de seus irmãos mais velhos, tanto em tamanho quanto em coloração, Willy se mostrava o mais aterrorizante. Uma besta preta e branca incomparavelmente forte, mas portador de uma calma sem igual. Poucas coisas eram capazes de tirá-lo do sério. Entretanto, ninguém sabe exatamente o que, pois, sempre que algo o fazia, civilizações eram erradicadas da noite para o dia. Não sobrava uma alma viva capaz de identificar a razão pela qual a destruição começara.
“Por causa de rumores mal contados e boatos fantasiosos sobre pessoas desaparecendo pelas florestas, a espécie ganhou um nome. Passaram a ser chamados "Golfinhos-Arbóreos”.
Eventualmente os ataques dos três demônios cessaram, em geral. Como se tivessem desaparecido para sempre. Precisavam do anonimato. Precisavam ser esquecidos para dar início a segunda parte de seu plano. Os três migraram então para a vasta imensidão oceânica. Um lugar extenso e inacessível. O local perfeito para a execução de seus planos. A raça humana começou então a fazer o oposto, vilas e comunidades a beira mar foram abandonadas. Os humanos queriam distância das mesmas, pois era lá onde os Golfinhos-Arbóreos conseguiam seu alimento. Graças a isso evoluímos unicamente como seres terrestres.
Dezenas de gerações se passaram. Durante esse tempo, uma nova espécie foi descoberta pelos mares. Os humanos, vendo a clara semelhança às criaturas longamente esquecidas em seus livros de história, chamam tais animais de "golfinhos". Criaturas inofensivas aos olhos leigos, mas na realidade, descendentes dos três demônios. Soldados treinados para invadir e dominar nosso planeta quando lhes fosse conveniente.
Hoje os seres humanos não os veem como ameaça. São animais graciosos e inteligentes. Mal sabem eles que estão lidando com seres alienígenas capazes de dizimar cidades em poucos minutos.
Eles precisavam que os humanos acreditassem na figura pacífica que fingiam ser. Governar nosso planeta ou incitar o terror absoluto só chamaria mais a atenção de seus inimigos. Dos inimigos que destruíram seu planeta natal e aniquilaram sua espécie. Dos inimigos que até então estavam certos da vitória sobre a raça alienígena dos Golfinhos-Arbóreos.
É claro que seus planos só deram certo até, inevitavelmente, serem captados nos radares destes mesmos inimigos. Mas os milênios de discrição lhes proporcionaram uma vantagem. Seus inimigos, os Patos-Celestes, não tinham noção do poder atual dos Golfinhos-Arbóreos, portanto, não podiam agir precipitadamente contra eles.
Os Patos-Celestes, a outra raça alienígena super-inteligente, então vieram para a Terra. Cientes dos planos de crescimento por debaixo dos panos dos Golfinhos-Arbóreos, mas sem qualquer noção dos números atuais de seus inimigos. Eles se infiltraram aos poucos entre nós. Usando sua tecnologia avançada para alterar nossas mentes e nossa história, nos fazendo acreditar que sempre estiveram entre nós. Os malditos Patos-Celestes começaram sua guerra particular, e invisível aos nossos olhos, contra os Golfinhos-Arbóreos. Dessa vez confiantes de que não deixariam sobreviventes.
Hoje, essas duas raças vivem entre nós em uma eterna guerra fria. Espiões existem entre as duas facções, mas nenhuma delas tem informação o suficiente para se assegurar de uma vitória definitiva contra o outro. Tecnologias são desenvolvidas, assim como armas biológicas, para tomarem a dianteira sobre seu inimigo. Os humanos são ignorantes e inocentes demais para entender as pistas deixadas sob seus narizes. Estão inclinados a criar uma teoria deturpada sobre marcianos ou física quântica. Ou até mesmo milagres.

Essa precaução é o que ainda nos mantém vivos. Anote o que digo, criança. Cedo ou tarde, uma das raças terá o poderio para destruir seu inimigo e, tenha certeza, nosso planeta, assim como a humanidade, não será poupada. ”